O TEATRO LAMBE-LAMBE
A LINGUAGEM
O Teatro Lambe-Lambe é uma linguagem teatral que nasce no ano de 1989 no estado da Bahia, quando a sergipana Ismine Lima e a baiana Denise Santos decidem colocar uma cena de um parto em uma caixa inspirada nos fotógrafos lambe-lambe que foram nos anos 1970. Acontece que essa linguagem, por ser tão recente, vem se construindo até os dias de hoje, seja na elaboração da engenharia da caixa, na quantidade e posicionamento de espectador, na duração da apresentação, na construção dramatúrgica e, principalmente, no método utilizado para criação da cena (teatro de objetos e/ou teatro de animação) por cada pessoa que multiplica.

A técnica do Teatro Lambe-Lambe utiliza uma pequena caixa cênica, portátil, dentro da qual é encenado um espetáculo, que em geral tem curta duração, com a utilização de bonecos ou outros objetos que são animados. Em geral, a caixa tem uma abertura na frente, por onde um único espectador de cada vez assiste ao espetáculo, uma abertura atrás ou em cima, que possibilita ao ator-animador ter visão do interior da caixa e duas aberturas laterais, que podem conter ou não uma luva, onde o ator-animador coloca as mãos para realizar a manipulação. Os orifícios da frente, de trás ou de cima da caixa, são cobertos por um pano negro, portanto tanto o espectador como o manipulador ficam com suas cabeças cobertas durante o espetáculo, este dispositivo tem a finalidade de impedir a entrada de luz externa dentro da caixa. A sonorização do espetáculo pode ser feita com material previamente gravado, que é veiculado através de um aparelho de som com utilização de fones de ouvido, ou ainda o ator-animador utiliza sua voz ao vivo para dar vida aos pequenos personagens. Devido ao reduzido espaço cênico que é a caixa de Teatro Lambe-Lambe e a curta duração do espetáculo, todos os outros elementos que compõem esta manifestação artística devem ser concebidos ou adaptados em conformidade com esta especificidade. Os bonecos ou elementos cênicos utilizados em seu interior são de pequenas dimensões e de diversos feitios, construídos com os mais variados tipos de materiais ou também são utilizados bonecos e objetos manufaturados. (BELTRAME E ARRUDA, 2005, P.02)
Como acabamos de ler na citação acima, Arruda e Beltrame colocam muito precisamente, no artigo “Teatro Lambe-Lambe: o menor espetáculo do mundo”, a essência do que é essa forma de arte hoje, trinta anos depois da data do seu surgimento. Falo a essência justamente por já ter se passado trinta e cinco anos e, durante esse período, muita gente já ter acrescentado muita coisa à linguagem, seja na sonoplastia, no tipo de manipulação, no tamanho da caixa, no formato dela, no tipo de iluminação, fatos que tem muito a ver com as diversas variações e as maneiras de se apropriar da linguagem em diferentes lugares do mundo.
Aonde a caixa chega, ela gera um ar de curiosidade por todos que estão em volta, principalmente quando ela é pintada da cor preta, por ficar mais misteriosa. O espectador é captado pelo mistério, hipnotizado pela poética e desacelerado pelo segredo contado no pequeno espaço de tempo dentro da caixa. Cada apresentação é única, realizada para apenas uma pessoa por vez. Isso faz com que o espectador se sinta privilegiado pela oportunidade de apreciar reservadamente o espetáculo.
O Teatro Lambe-Lambe aposta na ruptura com as propostas de diversão massificada. É um teatro realizado normalmente por um ator-bonequeiro e apenas um espectador. Isso já constitui um ato de rebeldia que caminha na contra mão da maioria dos espetáculos e eventos artísticos hoje produzidos. Conceber um trabalho teatral de curta duração (01 a 04 minutos) para um único espectador que o vê como se olhasse por um buraco de fechadura evidencia uma noção de tempo e espaço pouco usuais e explorados nas agendas dos programas de diversão e lazer. (BELTRAME, 2015, P.03)
Uma sessão de Teatro Lambe-Lambe tem duração média de duas/três horas no total. Geralmente chegamos ao espaço, organizamos as nossas caixas e começamos a atender as filas. Uma sessão, para a gente, é um compilado de várias apresentações. Diferente do teatro “convencional”, que se chama de sessão apenas uma apresentação do espetáculo em cartaz, a nossa sessão seria o que chamamos de temporada do teatro convencional, várias apresentações.
Ao longo dos anos a linguagem se expandiu, e, por mais que tenha nascido no nordeste brasileiro em 1989, hoje sua maior produção e espaços de formação se concentram no sul e sudeste. Isso quando se fala em Brasil, porque a produção da linguagem fora do país é grandiosa.